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RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS É FORTALECIDA DURANTE A PANDEMIA



foto: Site R7




Para a pedagoga Júlia Auatt, a relação entre pais e filhos foi fortalecida durante a pandemia. Esse é o lado positivo do ensino a distância.


" O maior impacto que o ensino remoto vai deixar para essa geração de crianças é o fortalecimento do vínculo afetivo com os pais, pois precisamos desse auxílio para tudo. Antes muitos pais não tinham tempo com seus filhos, ou não tinham tempo de qualidade. Com a pandemia, precisaram se reinventar e estar perto, conectado com o filho. Essa foi a grande vantagem. Laços estreitados com a família, disse ela.


De acordo com dados levantados pela UNICEF, mais de cinco milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso à educação em 2020, número agravado pela pandemia. A organização também afirmou que a faixa etária entre seis e dez anos foi a mais atingida pela exclusão escolar, com 41% das crianças sem estudos no ano passado.


Sem poder ir fisicamente à escola, os ambientes de ensino tiveram que se adaptar a uma nova realidade, que antes era inimaginável nas creches e jardins de infância. A do ensino remoto. A educação infantil ainda contou com um desafio extra: controlar as crianças na frente do computador e fazer com que elas assistissem às aulas. Além disso, expor as crianças a horas seguidas de tela é justamente o que os educadores não recomendavam.


"As dificuldades encontradas no início, sem dúvida, foram prender a atenção através de uma tela, organizar de modo que cada um tivesse a sua vez de falar e ainda, minimizar as dificuldades enfrentadas pelas crianças no âmbito emocional, neste momento atípico", afirmou a coordenadora pedagógica de uma creche da rede privada, Júlia Auatt.

Diversos fatores também contribuíram para o índice alto de jovens longe das escolas, como a falta de acesso digital, problemas de horário na agenda dos pais e responsáveis e até mesmo dificuldade de contato com as famílias. A experiência complicada com o filho Davi levou Gisele dos Santos a tirar o menino da escola no ano passado. Ele fez metade do Jardim 2 durante a pandemia, mas o esquema de aulas não funcionou com Davi.


" Foi bem difícil no começo, porque ele não conseguia assimilar 100% as matérias. Era uma agonia muito grande. Ele não queria parar na frente do computador. Uma coisa terrível. Então eu não achei muito compensador continuar, apesar de ser uma etapa importante", conta Gisele.

Ano que vem o filho vai para a alfabetização, e ela afirma que se o ensino for presencial ou não, ele vai voltar para a escola, uma vez que é obrigatório por lei que crianças nessa faixa etária estudem. Também é garantido por lei que os colégios não podem retroceder os alunos de série, a menos que os pais queiram. Por enquanto, mãe e filho estudam em casa, nos horários em que ela não trabalha. Para que Davi pudesse aprender coisas novas nesse tempo longe da instituição de ensino, Gisele baixou um programa de alfabetização no tablet e pega atividades com amigos que são professores.


Conciliar a agenda dos adultos com as necessidades das crianças foi mais um dos grandes desafios do ensino a distância. Para Fabiana Miranda, que precisou sair para trabalhar mesmo durante a pandemia, as horas das aulas da filha foram bastante complicadas.


"Como ela ficava com uma tia que não entendia muito de tecnologia, o meu marido vinha na hora do almoço para casa para conseguir colocar ela nas aulas. Era até 15h da tarde, então ele conseguia dar algum apoio para ela nesse tempo. No ano passado o rendimento dela não foi tão grande, porque ela estava passando do jardim 3 para o 1° ano, então já era uma fase que ela estava começando a aprender a ler e teve uma dificuldade muito grande, e eu reconheço isso em relação a esse ano," disse Fabiana.

Professores afirmam que é uma grande preocupação dos pais que os filhos fiquem atrasados nas matérias e não consigam aprender, mas para a professora e atelierista Gabriela Saad, com tantas mortes diárias no Brasil, esse é o menor dos problemas agora. Ela promete que o conteúdo vai ser recuperado depois. Mas é preciso analisar antes de tudo como está o psicológico dos pequenos, que foram imersos a uma nova realidade tão repentinamente. Gabriela trabalha em uma escola privada na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde as aulas já voltaram presencialmente. O local fica atento ao esquema de medição de contágio do governo, que funciona por cores. Quando está vermelho significa que o índice é alto, e eles fecham nesse período.


"Ver as crianças quando elas voltaram foi muito emocionante, e foi muito interessante observar como cada uma lidou com esse retorno. Porque mesmo algumas já conhecendo a escola antes, já estudando lá há um tempo, elas estavam acostumadas a ficar com os pais o dia inteiro e tiveram a maior dificuldade para se readaptar", afirmou a atelierista.

O que as professoras também observaram foi a naturalidade com as que crianças se adaptaram ao momento da pandemia. Elas contam que os alunos entendem que o vírus existe e não é algo bom, mesmo sem entender exatamente o que é. O coronavírus entra nas brincadeiras como o vilão que elas tentam destruir. Os pequenos também não são relutantes quando o assunto é respeitar as normas de segurança do distanciamento social, e todos - menos os bebês - usam máscara.


"Eu voltei arrasada pensando em como as crianças iam usar máscara. E aí depois eu percebi que isso é uma questão dos adultos. Os adultos têm mais dificuldade para usar máscara direito do que as crianças. E as próprias crianças repreendem os amiguinhos que não usam máscara", conta Gabriela.

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