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FIÉS SE REIVENTAM PARA VIVER A FÉ LONGE DOS CENTROS RELIGIOSOS

Pessoas de diferentes religiões debatem sobre a possibilidade de substituir a reza antes feita nos Centros Religiosos pela reza em casa


Capela vazia em decorrência da pandemia do novo coronavírus (Foto: João Alexandre Borges)

A empreendedora e sócia fundadora da empresa de viagens “Amici Turismo”, Fabiana Targino, reza o terço todas as noites com o marido em lives no Instagram na página “Terço das Famílias”, que já tem mais de dois mil seguidores. Fabiana iniciou o projeto em 2014 e conta que rezou em todas as noites desde o início da pandemia nas lives em sua página. Desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus, medidas restritivas foram impostas e o isolamento social começou a fazer parte da vida cotidiana. Dessa forma, os fiéis como Fabiana, impossibilitados de frequentar os centros religiosos, precisaram se reinventar para viver a fé.


"A comunidade incapacitada de estar no espaço físico pode se encontrar através das celebrações on-line para dar continuidade ao seu crescimento, vivendo momentos de intensa oração e intimidade com Deus. Grupos e pastorais precisaram se modernizar e assim também entrar neste novo ambiente para dar continuidade a formação da Comunidade. Eu mesma levei para redes sociais o simples hábito de rezar em família e assim, hoje, somos muitas famílias que rezamos juntos a oração do Terço. Todas as noites desde o início da pandemia estamos levando a oração e rezando por todos aqueles que nos pedem. Precisamos falar com Deus, assim como falamos com um amigo"

No entanto, Fabiana destacou que, na visão dela, não é possível substituir a reza dentro de casa pela reza nas Igrejas. Ela acredita que é preciso viver em comunidade e se “alimentar” do próprio Deus. Isso só é possível, de acordo com ela, com a Eucaristia celebrada em cada Missa.


"Precisamos da vida em comunidade para crescer na fé. A igreja não é só uma ida ao Templo, mas é de fato a casa de Deus. Ele habita naquele lugar. Sentimos a presença Dele e podemos, a cada missa, estar com ele em corpo, sangue, alma e divindade. Jesus não é representado naquele pão. Ele é o alimento que mais precisamos. Podemos praticar, sim, nossa fé por onde formos, mas precisamos sempre estar na Igreja para estar na presença do próprio Deus"


CELEBRAÇÕES EM CASA E REDES SOCIAIS


A opinião é compartilhada pela estudante de comunicação social Maria Eduarda Jerke, que está no processo de conversão ao judaísmo. No entanto, ela ressalta que algumas cerimônias, como a do Pessach, podem ser feitas em casa. O Pessach é a “Páscoa Judaica", também é conhecida como “Festa da Libertação”, e celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito.


"Eu acho que não é possível substituir. Tem várias formas de você rezar o Judaísmo e dá pra você fazer o Shabat (este é o Nome dado, no judaísmo, ao dia de descanso semanal, simbolizando o sétimo dia da criação, em que Deus descansou) como você achar mais confortável para você e para sua família, mas a reza do Shabat, eu acho que não dá para fazer fora da Sinagoga, o serviço oficial. Tem outras rezas que são importantes, por exemplo, as cerimônias de Pessach, que dá para fazer em casa. Sempre tem uma especial, então acho que não é possível substituir, mas dá para você adaptar"

Maria Eduarda contou que acompanha algumas celebrações em uma Sinagoga americana de Nova York chamada “Central Sinagog”. Ela explica que esta faz transmissões ao vivo e que tem uma boa filmagem para o público. A estudante também revela que uma das “soluções” para viver a fé neste momento é a partir de grupos em redes sociais.


"Tem muitos grupos no Facebook de pessoas que estão se convertendo ou são recém-convertidas, mas o que mais achei foi no Tiktok. Desde pessoas que estão no processo de conversão, quanto procurando uma nova vertente ou que eram liberais e se tornaram ortodoxos. Então, tem uma comunidade muito grande, dá pra você fazer parte de grupos, nesses meios sim. No Tiktok, tem uma comunidade muito grande de pessoas, principalmente, dos Estados Unidos, que estão no processo de conversão e é muito legal, porque eles compartilham a jornada deles. Você se sente muito abraçado"


OUTRO LADO


No entanto, a estudante de jornalismo Ianka Menezes acredita que é, sim, possível substituir a reza na religião Evangélica. Ela destaca que o mesmo Deus que está no Templo, é O que está em casa. Assim, Ianka acredita que esta relação é mais pessoal e individual entre a pessoa e Deus.


"Tem uma parte da Bíblia, em Mateus 6, que fala que a gente tem que ir para o nosso quarto e orar a Deus em secreto. Então, acredito que Deus quer construir conosco um relacionamento, e não uma relação de separação de Deus, O poderoso, e nós como servos, uma relação, assim, distante e hierárquica. Acho que ele quer desenvolver um relacionamento íntimo. Por isso que essa passagem fala do nosso quarto em secreto, porque quando você está só, você não está sendo observado, você pode ser quem você é, se você quiser chorar, você pode chorar. Você é livre"

Já a economista Vitória Barcellos, que é Umbandista, acredita que é possível viver a religião fora dos Centros de Umbanda. Ela admite que o contato com outras pessoas faça falta, mas destaca que a fé não está nos Centros. No entanto, Victória pondera e explica que, na sua visão, não é possível substituir as rezas nos Centros pelas rezas dentro de casa.


"Nunca é a mesma coisa, eu tive que me adaptar. Não espero sentir a mesma energia, nem ter os mesmos resultados. Mas eu fui testando e adaptando formas que me criassem ao menos uma paz e um equilíbrio. Seja com música, meditação, cantando, algum ritual etc. Hoje, me conheço o suficiente para saber o que fazer para me sentir conectada com todos que cuidam de mim"



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