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SITUAÇÃO FINANCEIRA É UM DOS ASPECTOS MAIS AFETADOS DA PANDEMIA

As questões de saúde mental nunca estiveram tão em voga como nesse momento complicado. De acordo com a psicóloga e professora de psicologia da PUC-Rio, Mariângela Monteiro, muitos alunos e professores começaram a apresentar sinais de depressão, ansiedade, pânico e isolamento. A psicóloga relata que a parte da população mais afetada são as comunidades carentes, pois não possuem poder aquisitivo para conseguir acompanhamento psicológico e dificuldade de manter o estudo à distância.


“Há aqueles que estão sem estudar por não ter acesso a ferramentas para que a educação se realize online”, relata.

Com a migração das escolas para o ensino virtual, as pessoas da favela foram ainda mais prejudicadas. No Brasil, o nono país mais desigual do mundo segundo o IBGE, a educação remota provocou o agravamento das diferenças entre ricos e pobres. Para as aulas remotas, é indispensável algum meio tecnológico, como um celular ou um computador, o que já é uma grande impossibilidade para os estudantes da favela. Essa carência é só o início do problema, os alunos, além da questão tecnológica, não contam com uma infraestrutura doméstica para estudar.


É o caso de Melissa Bernardino Jales da Silva, de 19 anos, estudante da escola Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes. Ela mora no Complexo do Alemão e teve muita dificuldade de permanecer estudando. Com apenas um quarto em sua casa e sem internet, Melissa não conseguiu acompanhar as aulas frequentemente, pois só tinha um celular antigo. Segundo a aluna, há muita dificuldade de comunicação com os professores por conta da internet e ferramentas difíceis de manusear pelo celular.

"Meu aprendizado caiu muito e ainda sinto muita falta do convívio social com meus amigos e funcionários da escola".

Na Comunidade da Maré, estudantes passam por problemas similares. Rayana Regina da Silva Gomes, de 17 anos, também teve muita dificuldade de assistir às aulas, pois não tinha um celular. Além disso, a estudante não consegue se concentrar, o que acarretou na piora de seu aprendizado. Por não ter contato com amigos e professores, seu psicológico foi muito afetado. De acordo com a aluna, é frequente as vezes em que se sente solitária e desmotivada para realizar as atividades escolares.


Além do prejuízo intelectual e a falta de estrutura doméstica, muitas famílias da periferia tiveram uma perda financeira com o ensino virtual. É o caso da empregada doméstica Kátia Maria, mãe do Jefferson, de 14 anos. Ela foi obrigada a comprar um novo celular para que o filho pudesse assistir aula. Com um gasto tão alto e inesperado, Kátia teve que cortar muitos custos e ficar apertada financeiramente.

"Foi muito complicado, porque eu tinha outras contas para pagar e a situação da minha família ficou muito ruim".

Jefferson, filho de Kátia Maria, tendo aula pelo celular.

A moradora da Maré e mestre em educação, cultura e comunicação em periferias urbanas, Gizelle Martins, acompanha de perto essa luta diariamente. As crianças da sua própria família estão sem acesso - sua irmã tem seis filhos, e ela não consegue dar assistência e acompanhar as aulas de todos com apenas um celular. “O acesso à internet é do vizinho. Especificamente na Maré, a internet é muito limitada, não importa quão grande o pacote de internet que a pessoa comprar porque a velocidade direcionada para a favela é fixa” explicou. Essa realidade não é só na Maré, mas em muitas outras comunidades e periferias do Rio de Janeiro. A pior das situações são daqueles que não têm internet, celular ou computador até antes da pandemia começar.

“O espaço escolar da favela é um local que tenta suprir necessidades locais. É um local que vive um empobrecimento muito grande: não tem casa, não tem comida, não tem assistência, não tem apoio psicológico” alerta a educadora.

As consequências serão ainda mais gritantes no futuro “quando esse aluno for tentar o ENEM e o vestibular ele não vai passar. Na questão do emprego, habilidades, idiomas… coloca-os ainda mais atrasados”. No mais dos impactos profissionais e econômicos, o psicológico também sofre: “culpabiliza o pobre de não ter acesso”. Para Gizelle, essa responsabilidade deveria ser dos que governam, porque eles já sabem dessa realidade. E ressalta que insistir no sistema de EAD durante a pandemia, e pós-pandemia, é dizer sim a desigualdade cada vez mais.


Com o avanço da vacinação, especialmente da força trabalhadora das escolas, o futuro das aulas presenciais se torna cada vez mais real. O próprio uso de máscaras - que são fundamentais para o retorno às aulas e essenciais para manter o ambiente escolar seguro - impacta as interações sociais, uma vez que elas cobrem uma grande parte do rosto. Isto dificulta a interpretação de emoções e de expressões faciais. O agravante, é que não se nasce com essa habilidade, é preciso aprendê-la.


Mas será que é possível enxergar uma luz no fim do túnel? A Mariângela arrisca que nem tudo está perdido:


“Mantenho a esperança de que podemos aprender a cuidar mais da vida, cuidar de si e do outro. Acredito que a dimensão do EAD pode contribuir com a ampliação do acesso ao conhecimento, em especial para os que não têm condições de frequentar a educação presencial, ou que, por sua maneira muito própria de aprender, desejam estar vivenciando esta experiência".

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