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VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19 NO BRASIL TORNA-SE MAIS COMPLEXA QUE O ESPERADO


Especialistas falam sobre os maiores desafios do momento e explicam porque essa campanha é diferente de todas as outras


Foto: Pedro Ribas/Prefeitura de Curitiba


“Acredito que o poderia estar sendo feito, está sendo feito”, afirmou a médica Eliane Matos, da Assessoria Clínica da Bio-Manguinhos/Fiocruz. Para ela, a necessidade de uma vacinação rápida e para o maior número de pessoas é o maior contratempo atual. Os esforços dos profissionais da saúde e dos laboratórios são enormes, mas a população não depende apenas deles para se proteger do coronavírus.

A maior campanha de vacinação em massa do século XXI até então, com 42% do público alvo imunizado em apenas 3 meses e um grande combate contra a desinformação sobre as vacinas. Esse foi o Brasil em 2010 na campanha de vacinação contra a nova variante da H1N1. São muitos os fatores que colocados juntos resultaram no desastre sanitário que o país vive hoje, mas os fatores que influenciam na dificuldade da campanha de vacinação são mais complexos do que parecem.

Carla Domingues é imunologista e foi responsável pelo Programa Nacional de Imunização por quase 10 anos e sinaliza a responsabilidade e negligência do governo no déficit de doses em que vivemos. “O governo não acreditou que haveria a necessidade de vacinar toda a população em um curto prazo de tempo, investiu na aquisição de só um laboratório, que não teria essa capacidade de fazer uma vacinação rápida e a gente vive o que a gente está vivendo hoje, uma vacinação com escassez de vacina, e vai demorar quase que um ano para vacinar a população porque não fez essa aquisição de forma rápida”, disse ela.

No entanto, algumas especificações em relação à COVID-19 torna a estrutura de um plano de vacinação mais complicado do que qualquer outra, afirma Carla.

COMPLEXIDADE DA VACINA

Joana Hygino é professora de imunologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e explica o que torna a vacina contra a COVID nova e diferente das outras.

“A maior parte das plataformas de vacinas contra a COVID-19 são novas para a vacinação em seres humanos. Logo, a desconfiança da população associada à ampla veiculação de notícias inverídicas sobre as vacinas gênicas, que utilizam RNA mensageiro, como a vacina da Pfizer e a da AstraZeneca/Oxford, adicionado ao preconceito pelos produtos chineses, a CoronaVac, tornaram o desafio da vacinação contra a COVID-19 ainda maior”, explicou a professora.

Além disso, a rapidez do desenvolvimento da vacina gerou uma desconfiança. Entretanto, essa velocidade, segundo Joana, é justificada pelos grandes avanços científicos e tecnológicos, que possibilitaram essa otimização do tempo.

DÉFICIT NA COMUNICAÇÃO

Um fator relevante é a existência de duas doses para a eficácia completa do imunizante entre as vacinas que o Brasil tem disponíveis. Voltar ao posto de vacinação é algo simples, mas que não está acontecendo entre a população geral. Cerca de 4,4 milhões de brasileiros não voltaram para a parte final da inoculação do vírus. Para Carla Domingues, que esteve à frente da campanha nacional de imunização contra a H1N1 em 2010, há necessidade de uma boa comunicação com a população, combatendo as informações falsas que circulam de maneira a incentivar a população a se vacinar e entender que a imunização é um compromisso coletivo.

“Tem muita gente ainda que está com medo de tomar a vacina, tem muita gente que não acredita em vacina, tem muita gente escolhendo vacina e muita gente tomando vacina e não voltando para tomar a segunda dose. Aí está um trabalho de comunicação muito grande a ser feito para que a gente possa garantir a vacinação do maior número de pessoas. Porque a gente só vai ter a imunidade coletiva e voltar ao normal se a gente tiver pelo menos 70% da população vacinada e pra isso eu preciso de uma maior adesão da população e com as duas doses”, alertou a imunologista.

PROBLEMÁTICAS DA ATUAL CAMPANHA

“Numa pandemia, cada dia conta”, lembra Joana Hygino. A urgência de ter o maior número de vacinados o mais rápido possível é uma linha tênue entre salvar vidas ou não. “Os pontos de vacinação têm vazão para vacinar muito mais gente do que hoje é vacinado. Isso não é feito porque pode passar uma impressão de falta de logística do governo, visto que não daria tempo de novos lotes de vacinas serem entregues”, disse ela. Para a professora, a escolha de vacinar menos pessoas por dia para ter uma campanha ininterrupta é algo que pode colocar muitas pessoas em risco.

AS VARIANTES

O surgimento das variantes alfa, beta, gama, delta e kappa, que são cada vez mais contagiosas e mortais, amplia ainda mais a possibilidade do recontágio. Por enquanto as vacinas existentes são eficazes, porém a alta circulação do vírus cria um ambiente propício para novas versões do coronavírus, ainda mais perigosas.


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